“Um computador ligado à
internet em cada sala de aula é melhor do que nada, mas não é mais do que um
mísero e pequeno passo em direção à verdadeira mudança” (Papert, 1997, p.
216).
É um facto que hoje, as TIC oferecem um
imensas oportunidades para o processo de ensino/aprendizagem à distância de um
pequeno click, permitindo aos alunos
saírem das aulas sem dúvidas, tornando-se fator motivacional, sendo motivo para
a inclusão de alunos de diferentes características, necessidades educativas ou
provenientes de contextos diferentes. Porém, também se levanta o problema do
acompanhamento pedagógico e tecnológico por parte do corpo docente, sendo a
questão essencial, o que diz respeito às metodologias usadas, à forma como se
dá uso à tecnologia.
Refere Carvalho (2011:37), que o “conceito
de literacia transcende já o mero indivíduo alfabetizado, significa a
capacidade de cada indivíduo compreender e usar a informação escrita em vários
materiais (…) de modo a atingir os seus objetivos, a desenvolver os seus
próprios conhecimentos e potencialidades e a participar ativamente na sociedade”. Ora o autor identifica a
alfabetização como algo bem maior do que apenas ler e escrever, pois pressupõe
uma compreensão de todo o tipo de informação e de todo o tipo de recursos que a
disponibiliza. Todavia, é de alertar para o conceito de literacia como sendo o
mais apropriado para a sociedade em que vivemos, porque supõe também a
aquisição de competências informáticas, para que os indivíduos do mundo atual
não se tornem info-excluídos, seja outra forma de iliteracia.
A escola foi durante muitos anos o local
de alfabetização, pelo que no contexto da sociedade atual terá obrigatoriamente
de ser, também, o local do alfabetismo informático. Hoje em dia, é claro, que a
escola está a sofrer uma alteração de raiz, os seus objetivos vão sendo
redefinidos e parecem nunca estar atualizados. Torna-se importante retirar
desta leitura, que hoje a ida à escola por parte dos alunos, não se
circunscreve à aprendizagem de competências de leitura, escrita e cálculo, mas,
sobretudo, à aquisição de competências de interpretação e compreensão de todo o
tipo de informação disponível, bem como o desenvolvimento do conceito de
cidadania.
Com efeito, também os professores terão
que adequar as suas práticas a este novo contexto, potenciando a integração e
desenvolvimento das TIC junto dos alunos, de forma a obter os melhores
resultados. Evidentemente, que os professores têm que investir bastante na sua
formação e adequá-la a este contexto social, mas também apropriar-se do domínio
de novas ferramentas que ajudam a promover o trabalho cooperativo e de
discussão, tornando as aprendizagens mais significativas. Refere Faria (2010),
que se pretendem que os professores usem tecnologias de modo consequente com os
seus alunos, então também se requer que detenham capacidades de conceção de
atividades curriculares com componente tecnológica, de selecionar software, de organizar projetos que se
socorram de tecnologia. Deste modo, apresentamos neste artigo algumas
ferramentas disponíveis e de utilização fácil, para que os professores usem em
contexto de sala de aula, para que tenham impacto nas aprendizagens, tais como
o Hotpotatoes, Webquests, Microsoft
Powerpoint, OpenOffice.org Impress, Microsoft Movie Maker, Smilebox, Microsoft
Photo Story 3 e o Vamos Escrever,
mas também apresentamos diversas ferramentas da WEB 2.0 (colaboração e partilha na internet) como blogues, wikis, fóruns, chats, googledocs,
skydrive, flickr, slidshare, entre muitos outros.
Na verdade, o papel do professor da
sociedade atual é o de alguém que coloca o aluno no centro das aprendizagens e
de forma ativa no processo educativo, alguém que promove a comunicação, a
partilha e cooperação, mas também alguém que coordena os alunos num espaço
aberto e comunicativo, para que criar uma rede de aprendizagens e adaptação de
conteúdos através de ferramentas disponíveis a baixo custo.
No que concerne à Língua Portuguesa,
torna-se premente repensar o uso excessivo do manual e potenciar o ensino da
leitura, escrita e oralidade usando dispositivos tecnológicos. Assim, sugerimos
algumas atividades tais como utilizar o Photostory
3.0 para a realização de um resumo de um livro. Após uma análise textual
completa do livro Lendas do Mar, de
José Jorge Letria, os alunos foram convidados a escolher um dos contos da
coletânea lida e analisada. Assim, os alunos escrevem o resumo na aplicação,
que vai sendo corrigida pelo professor, depois vão fazendo as ilustrações e
colando texto e imagem sincronizadamente, para que depois possam fazer a
leitura e narrar o texto escrito por baixo de cada uma faz imagens desenhadas.
Outra sugestão tem que ver com o uso da
aplicação Vamos Escrever, na qual os
alunos fizeram uma revista, escrevendo diferentes textos, colocando diferentes
imagens e ícones. A grande vantagem está no trabalho gráfico que a aplicação
permite, sendo de fácil intuição para os alunos, logo mais motivador para
trabalhar.
Assim, as vantagens das TIC permitiem
mais motivação, combate à exclusividade didática do texto escolar, permitem
práticas colaborativas e de partilha em tempo real, permitem uma cidadania
responsável, crítica e participativa, bem como uma nova relação pedagógica
entre professor e aluno, que não são de menosprezar.
Práticas:
Numa era em que o número de utilizadores
da internet sobe exponencialmente e em que o correio eletrónico, por exemplo,
ultrapassa já a conversação por telefone, é de facto urgente perceber de que
maneira estes recursos tecnológicos podem ser utilizados para potenciar a
aprendizagem e quais as melhores formas de o conseguir.
No caso concreto do ensino e
aprendizagem da Língua Portuguesa, isso passará pela resposta a algumas
questões como as que a seguir se apresentam e que poderão constituir um ponto
de partida para melhores práticas profissionais.
Assim, o inquérito por questionário foi
realizado nos Agrupamentos de Escolas do Concelho da Trofa, com a participação
de vinte professores, entre os 1.º (10) e 2 .º (10) Ciclos do Ensino Básico,
sendo que os últimos da área de Língua Portuguesa.
- Que competências de Língua Portuguesa
deverão ser mais exploradas?
Os professores foram claros em admitir
que objetivos, como ler, interpretar e compreender qualquer tipo de informação é
primordial na atualidade. O saber interpretar é nesta altura o mais badalado
pelos professores, pelo que os alunos leem informação, mas não a interpretam
corretamente.
- Que tipo de atividades e projetos
deverão ser os alunos envolvidos para atingir essas competências?
A maioria dos professores nomeia a
leitura de diferentes tipos de texto em sala de aula, mas também a criação de
jornais de turma, cantos de leitura, leitura a pares e em voz alta,
visualização de notícias, recorte de panfletos e análise do seu conteúdo em
sala de aula,…
- Que ferramentas e/ou aplicações
adequadas conhece para o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa?
A maioria dos docentes desconhece outras
ferramentas para além do Word e Escola Virtual de Língua Portuguesa.
Porém, houve pelo menos cinco docentes que conhecem alguns produtos e
aplicações mencionadas nos artigos, usam blogues
de turma e conhecem outros softwares.
- Como é que professores e alunos
poderão fazer uso das potencialidades das tecnologias online para maximizar o estudo e a prática da Língua
Portuguesa, nomeadamente, em termos de comunicação ou de aprendizagem
colaborativa?
A maior parte dos professores apresenta
o uso do correio eletrónico como a única ferramenta para potenciar a
comunicação e aprendizagem colaborativa, através de dúvidas e esclarecimentos
dados através de emails. Porém os
mesmos cinco docentes acima referidos, conhecem e usam o blogue como forma de
aprendizagem colaborativa e um desses professores potencia o uso das Wikis.
- Como preparar os alunos para
realizarem as suas próprias pesquisas na internet, organizarem e fazerem uso crítico da informação aí
encontrada?
Os professores reconhecem que antes de
se proceder a uma pesquisa, eles próprios devem estar bem informados sobre o seu
conteúdo. Depois consideram fulcral definir objetivos para a pesquisa em
questão e definem a sua utilidade para conteúdos de Língua Portuguesa como
sendo primordiais.
- Como contrariar o plágio de
trabalhos na área da Língua Portuguesa?
A maioria dos docentes não conseguiu
encontrar solução para esse problema.
- Qual a sua praxis relativamente ao
uso das TIC na sala de aula?
Pelo menos dez professores dos
inquiridos refere não usar as TIC no seu dia-a-dia, três professores reconhece
o uso das TIC de vez em quando, em algumas atividades. Sete dos professores
referem que usam diariamente as TIC nas suas aulas, sendo a maioria através da
projeção e do uso do Quadro Interativo Multimédia.
Concluímos através desta análise, que a
maioria dos professores ainda não incluiu o uso das TIC nas suas práticas, mas
também, que quando as usam, não conseguem tirar o melhor partido das mesmas, já
que apenas substituíram um quadro de giz por um outro mais tecnológico,
mantendo as suas práticas e metodologias.
Também reconhecemos o esforço de alguns
docentes para se informarem e iniciarem novas práticas colaborativas e com
metodologias apelativas ao uso das TIC como forma de prosseguir as competências
educacionais de forma mais motivadora.
Em nota final, apenas queremos deixar a
curiosidade que os professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico usam mais as TIC
em comparação com os do 2.º Ciclo do Ensino Básico.
Bibliografia
Carvalho,
A. (2011). Educação, TIC e língua portuguesa. Palavras. N.º 39-40 /
primavera-outono. pp. 37-47. Associação de Professores de Português.
Faria,
I. (2010). A integração das TIC no 1.º CEB, uma experiência educativa de
Formação no âmbito do «Programa e-Escolinha». in Costa, F (org) Atas do I
Encontro Internacional TIC e Educação TicEduca 2010. Lisboa: Instituto de
Educação de Lisboa.
Papert,
S. (1997). A Família em Rede. Lisboa:
Relógio d’Água.
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