Para
além de fatores de cariz eminentemente organizacional e cultural, como a
resistência à mudança e a inércia própria das instituições de formação, aliás
abundantemente estudados e normalmente referidos como justificação para
“atrasos” de outra índole, este tipo de justificações desloca para os
diferentes agentes de educação e formação em particular a responsabilidade do
estado atual nomeadamente em termos da sua incapacidade de inovação e mudança.
Segundo
Peralta e Costa (2008) são, de facto, numerosas as razões para a resistência ao
uso das tecnologias em contexto educativo por parte dos formadores. Nuns casos
receiam o que isso trará de novo e as alterações que será necessário fazer nos
modos como trabalham, noutros casos receiam não poder dispor das condições
necessárias para implementar as mudanças pretendidas, ou pura e simplesmente
não desejam participar nessa mudança.
Os
obstáculos que classifica de primeira ordem, são tipicamente de natureza
extrínseca, porque são externos ao formador ou requerem uma determinada
intervenção “tecnológica” para que a mudança possa ocorrer, como por exemplo, a
falta de computadores ou a dificuldade de acesso a programas específicos.
Inclui nesta primeira categoria o acesso ao hardware,
o acesso ao software, o tempo
necessário para a planificação, o apoio técnico e o apoio administrativo. Os
obstáculos de segunda ordem, são “internos” ao formador e podem manifestar-se
de formas diferenciadas. O receio dos computadores, ou o sentimento de
insegurança que manifestam na sua presença são exemplo disso. O que Perrenoud (1999)
sublinha é precisamente o facto de, muitas vezes, os obstáculos de primeira
ordem esconderem os de segunda ordem. Inclui nestes, não apenas as teorias dos formadores
(teorias implícitas, crenças) sobre a tecnologia, mas também as suas conceções
sobre a formação, o próprio contexto organizacional da instituição de formação,
a falta de consistência dos modelos de ensino, a falta de vontade para mudar.
O
limitado uso das tecnologias é justificado por muitos pelas dificuldades
inerentes à realidade cultural das próprias escolas, e pelas variáveis
diretamente relacionadas com os próprios formadores (conhecimentos,
competências, atitudes, crenças) (Dias, 2001), sendo estes aspetos mais
difíceis de superar do que a falta de equipamento (computadores e programas),
que constituía, pelo menos até há bem pouco tempo, um dos motivos mais alegados
pelos formadores para justificarem o uso reduzido dos mesmos na sua prática
pedagógica.
Segundo
Alarcão (2001), um formador tem mais facilidade em adaptar-se a uma determinada
inovação se as suas expectativas encaixam bem na sua conceção de formador. À
semelhança do que se passa noutras áreas, como, por exemplo, na Matemática ou
nas Ciências, em que é visível a influência que têm as crenças dos formadores
nas suas práticas, é possível que seja similar a relação entre o uso das TIC.
Verifiquemos o estádio em que um formador se pode encontrar de acordo com as
suas competências digitais (Figura 1).
Estádio
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Exemplo do que os formadores fazem
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Entrada
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Aprende o essencial para usar
novas tecnologias
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Adoção
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Usa as novas tecnologias enquanto
suporte de ensino tradicional de transmissão
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Adaptação
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Integra as novas tecnologias nas
práticas tradicionais como forma de aumentar a capacidade produtiva dos
formandos através da utilização de processadores de texto, folhas de cálculo
ou de apresentações eletrónicas
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Apropriação
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Incorpora o potencial de cada
tecnologia em projetos de trabalho interdisciplinar e colaborativos
|
Invenção
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Descobre novos contextos de uso
das diferentes tecnologias disponíveis, combinando o seu potencial ao serviço
do desenvolvimento dos formandos
|
Figura
1 – Estádios de Competências Digitais (formadores)
Alarcão, I. (2001). Professor - investigador: Que sentido?
Que formação? Cadernos de Formação de Professores. n.º1. p.21-30. Universidade
de Aveiro.
Dias, P. (2001). Comunidades de Conhecimento e Aprendizagem
Colaborativa. Seminário Redes de Aprendizagem, Redes de Conhecimento. Lisboa.
Conselho Nacional de Educação.
Peralta, H. & Costa, F. (2008). Competência e confiança
dos professores no uso das TIC. Síntese de um estudo internacional. Sísifo.
Revista de Ciências da Educação. n.º 03. p.77-86. Retirado de http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/sisifo03PT06.pdf
Perrenoud, P. (1999). Formar professores em contextos
sociais em mudança: prática reflexiva e participação critica. n.º 12. p.05-2. Revista Brasileira da Educação.
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